Interessante observar que, enquanto no noturno Conteúdo I o objeto “maçã” parece prestes a rolar em movimento, no Conteúdo II a diagonal tangente é feita de luz e sombra e o objeto “pêssego” se mantém plácido e calmamente em repouso. Isso me remete ao poeta que tinha à porta do seu quarto de dormir a seguinte indicação: “Silêncio! Poeta trabalhando.” O que o artista faz de dia, sonhou, primeiramente, à noite.
Malouzinha, minha mulher, dona do Conteúdo II, o mantém apelidado de “Bom Dia”. Ele - solar, luminoso, doce pêssego macio e aveludado, conteúdo de nossas esperanças por uma vida em harmonia, prazer, carinho e paz-, está pendurado na parede oposta à cabeceira da cama desde que o Conteúdo I, meu “Boa Noite”, assumiu nossos sonhos.
Publicar aqui nossa intimidade poética me faz entender o significado destes momentos na minha 3ª exposição individual. Me faz redimensionar a importância de nossa comunhão e de nossas escolhas que, na perspectiva plana da vida cotidiana, me pareceram sempre tão óbvias. Não via sequer razão para pensar nisso e, como já disse Fernando Pessoa, não pensar é, verdadeiramente, obedecer a Deus. |