ATELIER

ODILON CAVALCANTI

Atelier Odilon Cavalcanti
TEXTOS
Odilon


Uma trajetória biográfica beirando a autocrítica.
Ou,
Uma obra vista com as próprias mãos.


Estou vivendo um destes momentos que sintetizam a vida da gente.
Um momento de convergência dos fazeres, saberes, quereres, amares.
Ironicamente foi o processo de construir este site que me encaminhou para mim.
Foi a busca por recuperar imagens, redescobrir minhas camadas de expressão plástica, meus rastros pictóricos, que acabou levando-me a uma percepção e à subseqüente reflexão, as mais profundas até então, sobre minha obra e seu significado, ao menos ao que me tange.
Comecei essa percepção editando um blog ainda inacabado, como muito me apraz, onde me propus a desenrolar o fio de minha trajetória de artista inserido em meu espaço e tempo.
Comecei, esse blog, relatando, desde a primeira exposição e as suas contingências pessoais, sociais, e artísticas que delimitaram o leito do rio que minha obra percorreu, desde então.
Se lá não o fizesse, o faria aqui, mas este já é um outro momento.
Um momento onde a descoberta das encostas deste leito, onde correm rios de tinta, me falam de uma geografia do que fui sem me dar conta, quase sempre, das opções, que tomei, às vezes represando-o, às vezes deixando-o apenas fluir, levado pela irresistível força de uma gravidade que é grave, somente, quando não acontece.
Francisco Brennand citou, em um texto que enriquece imensamente minha fortuna crítica, uma frase de Whishler (atenção revisão): “a arte acontece.”
Hoje esta frase está mais viva do que nunca em meu espírito, Francisco.
Mesmo que quisesse, não poderia varrer um rio destes para debaixo do tapete fino da minha alma: minha arte sempre esteve à frente de mim mesmo, me mostrando como correr sobre as pedras de meu fazer, sobre a areia fina dos meus pensamentos, sobre a hera nascente de meus sentimentos que lhes dão sentido e confiabilidade, não por nenhuma estratégia mercadológica, ou por alguma desconhecida lógica de mercado, mas, isto sim, pela essencialidade de que é feita: cor, luz de matéria transcendida em espírito.
Percebo que a figura, marcante numa primeira fase, foi, aos poucos abrindo espaço para outros elementos de uma retórica cada vez mais livre, mas que nunca deixou, totalmente, de se insinuar, mesmo nas fases onde a importante influência do concretismo representada pelo meu mestre Maurício Nogueira Lima se fez mais presente. No Manifesto Transconcreto, que editei pela primeira vez em 1993, no Recife - e depois repeti, também em via pública, em S. Paulo - isso já estava claro, quando disse: ”não quero a figura revelada pela luz, quero transfigurar pela luz”.
Mas mesmo nas obras mais abstratas de minha produção de sempre, há, com Beutenmüller soube entender, uma figuração cósmica que conecta a obra com a vida. Mesmo que remotamente.
É, no entanto, a partir da tentativa de entender e transmutar essa materialidade, expressa na minha fase alquímica, e nos trabalhos do Manifesto que a ela se seguiu, que esta obra encontra sua verdadeira vocação, a vocação da transformação e a transição sobre e das contingências da vida, vocação esta, que percebo plena no meu trabalho de responsabilidade social com os jovens que já dura tantos anos.
É aqui, na tela “do outro” que minha obra encontra seu sentido mais pleno.
É pela mão “do outro” que a mensagem transformadora dessa obra alcança seu ápice.
É a cor “do outro” que essa tão procurada luz se revela.
Meu mestre neste processo todo, foi o mestre de todo e qualquer alquimista:o Senhor do Tempo.

É ele, Saturno, que come seus filhos, com indisfarçável prazer, a quem temos que ceder o espaço. É a obra do tempo que matura o fruto da arte. É aí que percebo que todas as minhas opções de me manter “out” ao mercado de arte me parecem, hoje, conquanto remédio amaro, o mais eficaz. Fují do sucesso à menor chance de, acidentalmente, ao acaso, isto acontecer: me perder na minha própria vaidade.
À bem da verdade, a fama nunca lançou sua sedução sobre mim, explicitamente.
Talvez, se o tivesse feito, eu não tivesse resistido aos seus apelos e seria, hoje, mais um dos artistas a quem chamamos celebridades, parte do longo rol dos seus ex-amantes, exauridos à última gota, consumidos pelo gosto volúvel do mercado.
Quis a história que mantivesse-me quase em total segredo, produzindo uma obra que, hoje sei, faz algum sentido que me transcende. É esse sentido que espero o visitante deste site possa descobrir nestas páginas.
E, em descobrindo, possa fruir e usufruir dele

Odilon Cavalcanti
Equinócio de outono de 2006.


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