Este pastel é a capa do meu primeiro catálogo. É um pastel sobre papel fabriano preto de 56,2x 48 cm de 1982. A primeira exposição individual, como o título da obra, foram duas: ambas no Estúdio José Duarte de Aguiar, só que uma no Rio, outra em São Paulo em novembro/dezembro de 1984.
Um só catálogo. Dois títulos: a do Rio era Identidade, a de Sampa, Perspectiva. Foi aí que eu percebi que expor é me expor.
Eu sou o artista mas também, de uma maneira projetada, sou a obra. Só que, "ler" a obra é a coisa mais difícil que se tem. É o desafio do crítico. É a ligação com o fruidor. Com a passagem do tempo, esse exercício vai ficando mais acessível. Vai maturando como qualquer um. Tanto em relação a nossa obra como a dos outros.
Na época estas imagens me diziam coisas difíceis de falar. Hoje a reflexão sobre a memória dessa imagens me evocam muitas palavras. De repente, é como se meu acesso ao seus conteúdos fossem uma maneira de me conhecer, Função prima da arte. Arte como auto-conhecimento.
Percebo, por exemplo o que antes só intuía: a redutibilidade da vivência dos ciclos: O Ano ( no título da obra), A Trajetória (no título do catálogo) num "aqui, agora" que sempre me interessou.
A série deste pastel continha mais três outros: Primavera (pastel s/fabriano preto-66,4x46,6 cm de 1981), Verão (pastel s/ fabriano preto-56,2x48 cm de 1983) e Cenas da Exposição (pastel s/ fabriano preto-56,2x48 cm de 1982).
A obra acima é a única que tenho registro. Ela foi o primeiro quadro que vendi em exposição. Sei quem o comprou e que deve conservá-lo até hoje. Os outros não sei mais aonde estão. Talvez este texto sirva para fazer com que me lembre. Ou quem sabe, que quem o possua possa ler essas linhas e me mandar uma imagem deles. Não me espantaria, nestes dias de final dos tempos. No mundo da internet (como no da arte) tudo pode ser possível.
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