Como uma pedra atirada que não quebra vidraça
Escolha a palavra inócua, combine com uma flor
Rime na medida, espere a última frase para matar
Não ondule as águas, não perturbe as profundezas
Erga uma parede semântica, diga "hermetismo"
Escolha as cores vivas, decore o poema morto
Alto contraste, arraste a imagem pela cidade
Na cidade diga algo como:
"Gostaria de ter amado
Amando era gostoso
Se amado outrora
Hoje sou desditoso
Na cortina o incenso permanece
No verde do tapete ainda estão seus pés
A porta nunca mais fechou,
Você levou os parafusos da fechadura.
Tudo que resta é uma pobre criatura
Aquela que você abandonou"
Torça para que suas palavras se propaguem
Não abuse da sorte,
Não revele a chave,
Faça uma oficina de escrita criativa,
Escreva conforme as lições.
(de "Meditações sobre a Palavra Poético/Comercial" de Elisabeth Tavares Arsênico, Porto Alegre, 2016)
Marcelo Valadão ( seleção)