Está aqui abaixo reproduzido, mantido na grafia da época, onde Monteiro se refere a um advogado que inicia seu trabalho no fórum do Rio de Janeiro, após completar sua educação na Europa:
"Seu espanto é de imaginar-se. Vinha do sol e entrava na Caverna do Caranguejo. Humidade, salitre, bolores verdes. Tudo velharias, em que pesa às caratulas modernas. O jurista aferrado ao reverencial dos precedentes. A ciencia reduzida á arte boticaria dos repertorios e casos julgados. A escolástica, a silogística, a glosa, o latim sabaceo, o brocardo revelho e todo o cortejo bafiento dos opiatos da Idade Media; e com ele todos os emplastros, tinturas, esparadrapos, revulsivos, robes, resinas, sabões, purgas, pós, porções, basilicões, obreias, méis, marmeladas, luques, licores, infusos, grageias, pílulas, gargarejos, gomas, geleias, fumigações, elixires, eletuarios, vomitorios, colutorios, causticos, cataplasmas, colirios, clisteres, apozemas e supositorios de pimenta dum chernoviz tramado contra a vida por todos os Lobões, Sousas, Silvas, Melos e mais Eusebios Macarios do direito reinol. E tudo vascolejado, filtrado, alcoolado, empilulado, enfrascado, rotulado na Botica de Temis da rua dos Inválidos, vulgo Forum – essa Cabeça-de-Porco onde as tábuas gemem ao pisar dos passantes, as aranhas veneraveis tramam de aranhóis os tetos encardidos e das fendas borbotam percevejos, baratas e ratos, que em vida anterior foram oficiais de justiça, os quais bichos se esgueiram por entre as pernas dos oficiais de justiça de hoje, que em vida futura ressurgirão ratos, baratas e percevejos."