Quando esta velha nave espacial do mundo for um
dia a pique
Não haverá iceberg nenhum que o explique… Apenas
um de nós, em desespero
– como quem se livra de terrível dor de cabeça
com uma bala rápida no ouvido –
Vai apertar o primeiro botão:
Clic!
Tão simples… E os mais espertos venderão,
a preços populares, arquibancadas na Lua
ou caríssimos camarotes de luxo
para que possam assistir à nossa ÚLTIMA FUNÇÃO
O perigo
é que a arquibancada desabe
ou que a própria Lua venha a cair no caldeirão fervente.
Enquanto isso, Deus que afinal é clemente,
põe-se a cogitar na criação, em outro mundo,
de uma nova humanidade
– sem livre-arbítrio –
principalmente sem livre-arbítrio…
Mas com esse puro instinto animal
que o homem do botão atribui apenas às espécies
inferiores.
Há 23 anos falecia o nosso ilustre e querido Mario Quintana. Nascido em Alegrete, o "poeta das coisas simples", como ficou conhecido por todos, veio moço para Porto Alegre estudar no Colégio Militar onde publicou suas primeiras produções literárias. De personalidade solitária, Mario Quintana (sem acento, como ele mesmo assinava) não teve filhos nem esposa, e residiu boa parte de sua vida em hotéis. O Hotel Majestic que é hoje A Casa de Cultura Mario Quintana, foi a casa do poeta por doze anos enquanto ele trabalhava no jornal O Correio do Povo. Além de jornalista e poeta, Quintana traduziu clássicos da literatura universal como "Em Busca do Tempo Perdido" de Marcel Proust e Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, tendo garantido sua presença literária no panteão dos grandes escritores brasileiros do século XX.