Estou escrevendo um longo artigo com o pomposo título de Como Foi Destruído o Mercado Livreiro Brasileiro, tendo como protagonistas uma multinacional predatória e incompetente mas com capital infinito, um marketplace mal gerenciado, duas redes de livrarias que não viram o perigo se aproximando, um grande investidor amigo meu que se deixou levar por suas preferências pessoais, prestadores de serviços de TI boçais, ineptos e gananciosos, serviços financeiros oligopolizados e caríssimos, um bando de livreiros incautos e despreparados, consumidores empobrecidos, mas que se acreditam empoderados e espertos, quadrilhas de escroques atuando nas margens da Lei do Consumidor, logística inconfiável, mercado totalmente desregulamentado, a cegueira criminosa do Sebrae, assimetrias no mercado de trabalho e na fiscalização, desempregados em busca de um bico aparentemente fácil e sem barreiras à entrada e outros males bem conhecidos. Como quase sempre, o curto prazo é inimigo do longo prazo e o particular é inimigo do geral. E a falácia da composição continua valendo.
Não sei quando vou publicá-lo, nem se vou. Talvez vire livro, a ser lançado por nossa editora, se não desistirmos antes. Enquanto isso, vejam como era a apresentação de uma suposta livraria, em famoso marketplace:
"Somos um time formado por pai, mãe, filhos, tios e avós, operando a partir da garagem de nossa casa. Amamos livros!"
Ou seja, custo quase zero, fiscalização zero, impostos zero, risco trabalhista zero. Podem vender qualquer livro a R$ 6,00. O que entrar é lucro. Como poderia a Cultura competir, com suas lojas em shoppings caríssimos, custos financeiros brasileiros e bons salários (com o respectivo peso trabalhista) para seus vendedores qualificados?
Não poderia. Quebrou.