É na quarta-feira! Na Christie's de Nova York ocorrerá o leilão da obra-prima de Newton, e provavelmente o livro científico mais importante da História, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica.

Com um precinho estimado acima de US$ 1 milhão, não será dessa vez que vou acrescentá-lo à minha biblioteca...

abertas.



William Osmarin

Perceptius



Eram frutos suculentos que se dependuravam naquelas árvores, apenas ao sabor do vento e dos pássaros. Jamais saberemos o momento exato em que a pata se tornou um pé, ou quando os músculos receberam o primeiro chamado para tal movimento. A gravidade duvidou do engenho, o estômago agradeceu a glicose daquela maçã, e os olhos... ah os olhos, perceberam outra dimensão do ver. Mudar altera os sentidos.

Um pastel meio verde
é bolor
comprovado
o gosto é de bolor
se fosse na França seria chics
mas é um fungo não gourmet aquele que aparece entre as mordidas da pessoa ao lado,
fez cara de nojo,
é bolor,
não reclama, ainda paga,
eu pago o café, um inseto nada,
gosto de gorgonseto.

Vampiro



(Soy soldado revolucionario soy de aquellos de caballería
Y me muere mi guapo en combate
Ay hombre, da-me una tequila! Me sigo en la infantería)

Eu uso óculos escuros
Para as minhas lágrimas esconder
Quando você vem para o meu lado,
As lágrimas começam a correr

Sinto aquela coisa no meu peito
Sinto aquela grande confusão
Sei que eu sou um vampiro
Que nunca vai ter paz no coração

Às vezes eu fico pensando
Porque é que eu faço as coisas assim
E a noite de verão ela vai passando,
Com aquele cheiro louco de jasmim

E fico embriagado de você
E fico embriagado de paixão
No meu corpo o sangue já não corre,
Não, não, corre fogo e lava de vulcão

Eu fiz uma canção cantando
Todo o amor que eu tinha por você
Você ficava escutando impassível;
Eu cantando do teu lado a morrer

Ainda teve a cara de pau
De dizer naquele tom tão educado
«oh, pero que letra tan hermosa,
Que habla de un corazón apasionado!»

Por isso é que eu sou um vampiro
E com meu cavalo negro eu apronto
E vou sugando o sangue dos meninos
E das meninas que eu encontro

Por isso é bom não se aproximar
Muito perto dos meus olhos
Senão eu te dou uma mordida
Que deixa na tua carne aquela ferida

E na minha boca eu sinto
A saliva que já secou
De tanto esperar aquele beijo,
Aquele beijo que nunca chegou

Você é uma loucura em minha vida
Você é uma navalha para os meus olhos
Você é o estandarte da agonia
Que tem a lua e o sol do meio-dia.

O futebol, antes de tudo, é uma conquista cultural. Percebemos isso nas comemorações e mobilizações que tornam o evento futebolístico em verdadeiro fenômeno de massa. Em 2013, torcidas organizadas participaram das manifetaçãoes dando voz ao coro das ruas, somando sua força aos protestos que marcaram aquele ano. Isso nos faz notar como é poderosa essa energia que eclode e se expande adquirindo preponderância na vida diária, como aconteceu ontem no jogo entre o Grêmio e Atlético Mineiro. Penso no quanto a mesma potência que leva  uma massa a sacudir um estádio poderia fazer em relação ao Planalto. Caso notável é a Revolta de Nika que ocorreu no ano de 532 em Constantinopla onde a população enfurecida e injuriada massacrou a guarda real, tomou as ruas e exigiu um novo imperador. Dentre os grupos articuladores da revolta encontravam-se organizações esportivas rivais que defendiam suas cores no hipódromo; eram os Verdes, os Azuis, os Brancos e os Vermelhos. Esses grupos, além de defender suas próprias cores, lutavam pelas idéias políticas, sociais e religiosas que os representavam. Chegaram a se transformar em partidos políticos de fato. Um bom exemplo do instinto de comunhão que nos move, e que infelizmente, em nossa situação atual parece nos levar cegamente ao caminho de um abismo, cegado por ideologias e condições de mercado.

Se soubesse o que sabia e o que saberiam
- os sabiás, mentira -
talvez não tivesse assobiado
- mentira novamente -
as palavras indolores que tanto serviam
- verdade -
para aplacar aquela função estética,
massageando o rosto atrás de algum poro
esquecido, entupido
- não creio -
pelo corpo lambisgóio dos cravos que pulavam,
bastava-lhe um poema que fosse leve,
espremendo-se no lirismo
- de mentira.

Um Poema para Marlon Brando



A esta dor - a arte.

Mas nunca que a arte
cause a loucura deste sofrimento.

Mulheres são violadas
e o artista permanece sempre além
de qualquer consideração moral e ética.

(posso ouvir o odioso
 ranger de seus dentes)

Quem é a fera, quem é o homem?

São todas filhas do terror.

Se o esquecimento nos salva
do caos de nós mesmos

-- escolho lembrar.

Lembrar todos os dias
que está dentro o que corrompe.

Lembrar todos os dias
e reviver a própria dor do nascimento,
para voltar ao início
e mudar todas as coisas.





William Osmarin

Que a educação brasileira anda mal, todo mundo sabe. O que fazer para melhorar é discutível. Vejam aqui, no blogo do Rodrigo Constantino, um bom artigo do Adolfo Sachisda sobre o tema:  8 medidas para melhorar a educação no país sem aumentar gastos públicos.

Para começar bem a quarta-feira, meu escritório favorito...

Nascer
dói e não basta

Acordamos
para o dia e a dor

Vivemos
para o riso e a ausência

Espera e exílio
palpitam em nosso peito

Mas quantos de nós,
além de acordar

Despertam e
desabrocham
suas inflorescências?




William Osmarin

"Nunca se viu tamanha cooperação entre os membros da família Souza como naquele Natal. Alberto, o patriarca, ficou incumbido de...

...Mariana recusou-se a comer mais uma colherada da maionese da vó Gertrudes, se mencionarem novamente o caso, ela disse, cortaria a todos com a faca elétrica...

...os assaltantes acharam melhor não levar o relógio de pêndulo: embora fosse do gosto de Gustavo, não poderiam careegá-lo na saveiro, quando atingissem a Marginal...

...uma horda de capivaras devorou o restante da mobiliária...

...Gerson, o avô, começou a levitar, vestido por uma capa preta. As luzes apagaram-se. O ruminar das capivaras...

...baque da queda de vó Gertrudes interrompeu a escuridão, revelando Mariana, servindo-se com um copo de sangue que jorrava do pescoço de Aluísio, seu cunhado...

...Neandertal, o border collie, foi presenteado com carrapatos estrela...

...Mariana passou o natal sozinha. "

Da minha última leitura...

" Gostei disso.  Livros eram mais confiáveis que pessoas, de qualquer forma. [...] Eu tinha os livros, e agora, meu gatinho."

O Oceano no fim do Caminho, Neil Gaiman.

Chegou para nós uma biblioteca temática do Exército brasileiro, com títulos muito clássicos e ao que acredito, porém só minhas colegas de trabalho poderão me informar melhor, muito raros. Pois essa biblioteca consiste quase em sua totalidade em exemplares abaixo do ano de 1945, onde aos nossos parâmetros isso quase sempre denomina um exemplar raro, por consequência, caro.

Alguém encadernou toda a sua biblioteca, de verdade, hoje, a encadernação é um processo dispendioso, penso quanto devia ser a 50 anos atrás!

Já que falamos em ditaduras...vejam aí o que chegou à Traça hoje, junto com um lote de livros de política e história daquela época: a edição de Zero Hora do dia seguinte à promulgação do AI-5!

Para completar a resenha matutina, alguns itens soltos...

Primeiro: a morte de Ferreira Gullar, um poeta de verdade. Poema Sujo foi o primeiro poema adulto que realmente me fascinou. Antes disso só o Manuel Bandeira, com seus cavalinhos e trenzinhos...

Segundo: há evidências de que o avião da Chapecoense teria caído sem combustível, numa tentativa de economizar uma parada para reabastecimento. Ou seja, morreram 71 pessoas por uns 2 ou 3 mil dólares. A América Latina não aprende mesmo...

Terceiro: sempre achei que o petismo terminaria como o fascismo italiano e aquelas ditaduras da URSS, com gente pendurada pelos pés ou fuzilada...

Quarto: não gosto da idéia de viajar no tempo, a Física da coisa é muito duvidosa e prefiro uma Ficção Científica plausível. Os iniciados sabem que a tal supersimetria povavelmente não existe, o que complica muito a possibilidade de tais viagens.

Quinto: as vendas da loja foram um fiasco no sábado. Choveu, e a gauchada preferiu ficar entocada em casa.

Último: assisti, também no final de semana, parte de um programa de TV (GNT? Não sei!) com figuras como Fausto Calcinha! Fawcett e José Thomaz Brum falando de Cioran e Augusto dos Anjos. Maravilha, gosto dos dois, mesmo que algo sinistros. O mais engraçado é que alguns textos do Marcelo publicados aqui andam me lembrando dessa dupla. Vejam o texto aí abaixo: subliminares subcutâneos da biologia poderia ter saído diretamente do EU do Augusto dos Anjos...

Quando se faz revolução com o corpo, o corpo
revoluciona-se em lingüagemovimento nos
dedos o compasso, de minutos
a segundos, a nada, de tempo pouco: domingos
sempre pouco tempo a compassar na revolução dos corpos
se revolucionando em pouco tempo, na revolução dos antigos
animais: a destruição da poesia, nos subliminares subcutâneos
da biologia, da vontade, existir no corpo alheio, nos domingos,
um, dois tempos.

E ontem tivemos também manifestações  contra a corrupção, o Congresso e o STF. Muita gente compareceu, o que é um tanto surpreendente e mostra o estado de espírito da população. Enquanto os governos, a Globo e outros atores minimizam os números, nossos nobres representantes do povo parecem não entender a gravidade da coisa. É certo que estão tentando salvar os próprios pescoços políticos...mas estão começando a correr o risco de perdê-los fisicamente, o que é muito pior...

Isso me lembra a velha teoria do sangue, que corria no meio acadêmico lá pelos anos 80 e rezava que o Brasil precisa de um banho de sangue para se encontrar e, finalmente, tornar-se uma sociedade civilizada moderna. Nunca concordei com ela, mas começo a pensar no que aconteceria se um Lewandovski, Toffoli, Renan, Maia ou Lula da vida acabasse mesmo linchado por uma população furiosa...