|
07/10/2016 15:35 por Douglas
|
"O Budismo não é uma Religião"?
Essa afirmação bastante recorrente e aqui colocada em forma de questão não pode ser respondida sem se levar em consideração tanto o que se está entendo por "religião", como pelo o que se está tomando por "budismo", uma vez que o último, ainda mais que o cristianismo, é repleto de interpretações, linhas e orientações, dissidências, etc.
Tal como Plutão já foi um planeta e depois deixou de o ser, sem que nada no objeto físico tenha mudado, pois o que mudou foi a definição do conceito de "planeta"; também o conceito de "religião" já teve diferentes definições em sua história, sofreram modificações, e muitas dessas definições ainda coexistem e concorrem entre si.
Se considerássemos como definição correta de determinado conceito a sua definição original, certamente o budismo não seria religião, tampouco o seriam o hinduísmo, zoroatrismo, politeísmos, animismos, totemismos, shamanismos, etc. Apenas as três grandes religiões monoteístas (Cristianismo, Judaísmo e Islamismo) poderiam ser chamadas, com propriedade, de "Religião", uma vez que o termo se origina do latim "religare", i.e., religação, tanto para com um deus único que é pai, pessoal portanto, como para com os irmãos, ou seja, a humanidade: a religação da família universal.
Mas a linguagem não tem poder de polícia, embora muitos filósofos de orientação analítica reivindiquem para si esse papel; ela, assim como tudo no mundo, está sujeita ao Devir, sofre mutações, "nasce, cresce, se reproduz e morre".
Se levarmos em consideração o Dhammapadha, clássico budista, muitas vezes atribuído, pelo menos em grande parte dos seus versos, ao próprio Buda histórico (Sidarta), pode-se perceber que o Budismo, tanto quanto a Filosofia no ocidente, não se apresenta como uma proposta dogmática, com um panteão de divindades próprios, uma mitologia e um rito; mas sim antes, como uma prática, uma técnica de cultivo de si. Tal como Sócrates mencionava as divindades do panteão grego (ainda que de forma simbólica, pois é bem provável que o pai do moniteísmo filosófico, não acreditasse na existência de fato das mesmas), Buda mencionava as divindades do panteão hinduísta; em ambos os casos, um recurso retórico de lugar-comum para atingir seu público alvo, seus conterrâneos contemporâneos.
Também a crença nos ciclos de renascimento que Buda menciona não é nenhum dogma próprio, mas a crença difundida na Índia daquele tempo, e ainda hoje.
Porem é fato que hoje, sobretudo no Oriente, como fenômeno social, o Budismo possui templos, textos sagrados, um conjunto de ritos e deuses. etc. Se levamos em consideração a definição de religião propriamente sociológica, é difícil não considerá-la como, sim, uma Religião.
Por outro lado, algumas vertentes do Budismo, tal como na sua forma original, podem muito bem ser utilizadas por qualquer leigo, seja ateu, agnóstico ou umbandista, assim como a Filosofia ocidental (redundância!) para o cultivo de si e do bem viver (com a diferença fundamental, é claro, que enquanto a última o faz por meio do escrutínio crítico e pensamento racional, a primeira o procura por meio da prática meditativa do não pensar...).
Resumo da ópera:
O Budismo é uma Religião?
Depende