"Não me permite respirar, antes me farta de amarguras", estava escrito na porta do banheiro. Um cagão bíblico, novidade. Devia estar pensando na separação, no casamento da filha, no trabalho, na diabetes, em como a vida não tinha sentido, na iniqüidade de Deus, essa criança mimada, ou em tudo isto, ou em nada, com o Velho Testamento na mão, sentindo-se próximo de Jó: a personalidade dos nossos tempos, o fundador da resiliência e da esperança dos fodidos.
Nada de religioso, o rolo de papel higiênico esvaia-se, rolava, do lado de fora, o barulho do restaurante, os garçons, os clientes ruidosos, a madame que reclamava do atendimento - Deus a fizesse de exemplo, como Jó; Deus a fizesse por a prova sua fé - o rolo acabou, levantou as calças assim mesmo e tentou mover o trinco para a esquerda, sem sucesso. Usou as duas mãos, nada. Apoiou-se contra a parede, utilizando o peso do corpo como alavanca, mas o trinco não deslizou.
Martelou a porta com o vaso sanitário, por fim. Nenhum risco sequer. Os garçons, os clientes, gritaria, a reclamação da madame, sem oxigênio, escreveu com as unhas na porta do banheiro e desabou no azulejo enquanto o sangue ainda escorria pelo branco da porta, em grossos filetes de cada ponto da palavra: GLÓRIA.
Marcelo Valadão
Os que te odeiam se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais.
Jó 8:22Os que te odeiam se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais.
Jó 8:22Os que te odeiam se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais.
Jó 8:22Os que te odeiam se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais.
Jó 8:22Os que te odeiam se vestirão de confusão, e a tenda dos ímpios não existirá mais.
Jó 8:22