O explorador foi chamado a sentar na tribuna, ao lado do juíz, em uma cadeira destinada a convidados ilustres. Dali era possível ver até a última pessoa presente no tribunal. Um caso célebre. Os espectadores acotovelavam-se para estar mais próximos do assassino que nos últimos dias, apresentou-se taciturno, a cabeça baixa, deixando-se arrastar pelos agentes da polícia sem mais nem menos. No terceiro dia do julgamento, o nariz era altivo e uma espécie de calma transpassava sua fronte.
Ele teve permissão de entrevistá-lo privativamente, tratava-se de um cidadão normal, vivia de pequenos empregos, ia aos sábados nadar ou ver cinema com a namorada e assistia o pôr do sol dos domingos da janela de seu apartamento.
Sua mãe morrera há pouco, as pessoas do asilo onde a velha morava, disseram que ele não verteu uma lágrima sequer, o que foi propagado pelos tablóides da cidade, provocando uma onda de raiva incoercível, que tinha, naquele dia, seu ponto de ruptura.
O assassino foi chamado à frente, condenado à morte, concederam-lhe as últimas palavras. De um púlpito, ao lado do explorador, ele disse:
- Vejo que vocês se reunem, se apinham para contemplar meu sofrimento. Qual escárnio ainda mereço? Eu que nunca estive completamente absorto pela sua cidade, que sempre abstive-me das intimidades, ignorando os comentários malignos para apenas viver em meio da sujeira de suas rotinas vazias. Sim, não chorei no enterro da minha mãe e matei um homem porque podia e também por conta do calor excessivo, os raios perfuravam minhas pálpebras e o disparo ecoou pelas dunas. Deveria estar em prantos, como a maioria de vocês se lamenta pelas mínimas coisas. Eu prefiro meu destino, a morte, do que estar no meio de vocês pela eternidade.
Mal terminara de se pronunciar, foi carregado pelo capataz para o cadafalso no qual a forca estava instalada. A corda envolveu seu pescoço e ele cuspiu no chão. A multidão ensandecida ria cada vez mais alto, como numa convulsão generalizada, como se fossem um só corpo a gargalhar como um gigante bêbado.
(aventura!)
No momento em que as escotilhas se abriram, o explorador atirou na corda, sinalizando no ar, quatro carros surgiram do nada, cinquenta homens com metralhadoras, os tiros.
O assassino descobria o cheiro da terra sobre a qual estaria morto e o sangue da multidão respingava pelas frestas de madeira, atingindo seu rosto.
Marcelo Valadão